Estudos sobre o impacto da economia no comportamento eleitoral dos indivíduos são abundantes na literatura da Ciência Política. Mais do que outras políticas públicas, como saúde, educação, relações com outros países, os efeitos da economia nas opiniões, preferências e escolhas dos eleitores receberam o maior nível de atenção dos estudos desde meados do século passado.
E as conclusões desses estudos partem de uma premissa simples. Na economia, todo governo precisa lidar com duas questões centrais: com o estado da economia em si e com as expectativas dos agentes econômicos em relação à conjuntura econômica do país.
Ou seja, a célebre frase dita pelo marqueteiro da campanha da campanha de Bill Clinton de 1992, James Carville (“É a economia, estúpido”) para explicar quais as principais preocupações dos norte-americanos naquele momento e como elas poderiam ser decisivas no voto daquelas eleições presidenciais poderia ser facilmente reescrita como “É o que as pessoas projetam para o futuro da economia, estúpido”.
Passados dois anos quase inteiros após o começo da crise causada e derivada da pandemia da covid-19 no Brasil, olhar para a inteligência afetiva dos brasileiros em relação à situação econômica do país pode ajudar muito a decifrar os movimentos das intenções de voto mapeadas pelas pesquisas de opinião.
Na semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou um estudo realizado pelo Instituto FSB Pesquisa, com uma amostra representativa dos brasileiros, que mostrou que as projeções econômicas da opinião pública também são mais pessimistas do que otimistas. No fundo, o estudo revela que as expectativas econômicas ao final de 2021 são muito próximas ao do começo da pandemia, no primeiro semestre de 2020, quando ainda a capacidade produtiva era menor e as incertezas sobre o vírus eram maiores.
Atualmente, 64% dos brasileiros consideram que a economia brasileira ainda não começou a dar sinais de recuperação dos impactos da crise e apenas 30% já percebem algum sinal de retomada. Esses percentuais são próximos aos de julho de 2020, quando 67% não percebiam sinais de melhora econômica e 31% já apontavam rumos mais otimistas.
A mesma pesquisa mostra ainda que a percepção sobre o tempo de recuperação será lento: para 56% dos brasileiros a economia só irá melhorar nos próximos dois anos, enquanto que 13% acreditam em uma recuperação até os próximos seis meses e 16% apostam em uma recuperação em até um ano. Outros 12% não souberam responder à pergunta.
E a partir do próximo ano essas expectativas estarão no centro do debate político de todos candidatos. Para o candidato do governo, o trabalho é converter e melhorar as expectativas. Para os candidatos da opinião, o trabalho será oferecer uma agenda política que as resolva.