Não é uma regra e tampouco uma recomendação, mas há uma visão estabelecida no senso comum de que empreendedores devem ficar longe da política. A eles cabe comandar suas empresas; os cargos públicos devem ser destinados a outros membros da sociedade civil. Nem é preciso dizer que essa perspectiva explica grande parte do fracasso que a classe política enfrenta atualmente em lidar com as demandas da população. Sim, política também é lugar para empreendedores — e suas presenças são cada vez mais necessárias num mundo que vive em constante transformação.
No Brasil, esse cenário fica cada vez mais evidente a cada escândalo revelado nas mais diversas instâncias do poder. Por aqui, não confiamos mais na estrutura política. No longínquo ano de 2016, apenas 6% dos brasileiros confiavam nos políticos, o pior índice do levantamento realizado pela consultoria GfK Verein — difícil imaginar que, cinco anos depois, esse percentual tenha melhorado. Em contrapartida, não nos incomodamos em empreender: 50 milhões de pessoas, quase um quarto da população nacional, deseja abrir seu próprio negócio nos próximos anos, segundo o relatório da Global Entrepreneurship Monitor. Há um desafio e uma alternativa, por que não juntá-las?
São os negócios estabelecidos pelos empreendedores que, no fim das contas, fazem a economia brasileira andar. Eles geram riquezas, ampliam a oferta de empregos e pagam os impostos que fazem o Estado funcionar. Não são, portanto, a figura maléfica que muitos imaginam. Pelo contrário, sem a força empreendedora, a crise pela qual o Brasil atravessa seria ainda pior.
A função primordial de um empreendedor é analisar situações corriqueiras e encontrar soluções para elas. Assim, não é coincidência que aqueles de maior sucesso também são os que têm atitudes politicamente corretas em sua relação com a sociedade. Para se criar uma empresa de sucesso, é preciso lidar com pessoas de diferentes perfis e visões, seja como colaboradores ou clientes. Dessa forma, é necessário descobrir as motivações de cada um e trabalhar em torno disso para chegar a um denominador comum. Isto é, a uma solução que atenda os principais interesses de acordo com o bem comum.
Convenhamos que não é muito diferente do que ocorre na política, seja na esfera federal, estadual ou municipal. Quem é eleito para representar sua comunidade em um cargo público precisa saber quais são as demandas e necessidades das pessoas — e claro, saber negociar as melhores condições para atingir esse bem comum. Portanto, quem tem sucesso na criação de empresas certamente terá mais chances de se destacar na vida política. Afinal, nada mais é do que encontrar soluções e resolver problemas.
O avanço do empreendedorismo na sociedade civil faz emergir novos desafios para as classes políticas — e só quem já tem esse olhar treinado em busca de inovação e alternativas consegue resolver. Hoje não há mais motivo e espaço para a demora na resolução de questões que afligem a população Brasil afora. O tempo da política precisa estar em sincronia com os anseios da população. É preciso ser ágil e assertivo nas decisões, tomar medidas corretas no curto, mas também a médio prazo, e ter uma visão completa para não beneficiar somente este ou aquele lado específico.
Evidentemente, nem todo empreendedor tem esse perfil político. Vários nasceram para fazer suas empresas prosperarem, crescerem, gerarem riquezas para si e para a sociedade. Todos desempenham um papel importante na sociedade. Mas quem resolve se interessar pela arte da política, sabe que essas qualidades interpessoais são vitais. A população não vota pelo “empreendedor”, mas pelo caráter que ele demonstra ter.
É daí que surge o conceito de empreendedorismo social, ou seja, negócios voltados a gerar impacto na sociedade e trazer melhorias às pessoas. São empresas que colocam as demandas sociais em primeiro lugar e buscam formas de solucioná-las. O empreendedor que demonstra essa preocupação nem imagina, mas já está fazendo política — daí para representar a população em um cargo público é questão de tempo.
No meu caso, tive a honra de crescer em um ambiente em que essa preocupação era latente. Meu avô, meu pai, vários tios e primos sempre tiveram preocupações com a vida pública. Assim, também sempre participei de associações, conselhos e órgãos públicos. Gosto de contribuir com a sociedade, seja por meio de opiniões e/ou participações. Meu pai foi prefeito quatro vezes de um município com pouca renda. Vivi a importância de uma administração pública séria, voltada para o povo em vez de interesses pessoais.
No fim, o empreendedor-político precisa entregar o que ele promete: trabalhar para uma sociedade melhor. O cargo que ele momentaneamente ocupa não lhe pertence; é da sociedade. Quando é eleito, torna-se um prestador de serviços à sociedade e o “lucro” não é a rentabilidade, mas a melhoria da vida de todos, o mais igualitariamente possível. Ele deve agir com ética pública, lembrando que o Poder Público deve servir à população e que está ali somente para empreender um modelo para toda a comunidade e não para si mesmo.